Leia, na íntegra, o artigo de opinião do Embaixador de Portugal em Angola, Francisco Alegre Duarte, alusivo ao Dia de Portugal, intitulado "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas em fraternidade com Angola" e publicado na edição de hoje do Novo Jornal.

 

20220610 nj 10 de junho

 (Fotografia: Novo Jornal)

Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas

Em fraternidade com Angola

(artigo para o Novo Jornal)

No dia de hoje celebramos Portugal, Camões e as Comunidades Portuguesas. Celebramos o amor à nossa Pátria, à nossa língua – uma língua que partilhamos com outros países, como Angola, e que é tão rica quanto mais diversa -, e as pessoas que prolongam Portugal pelo mundo.

Respeitando a prudência que nos impõe ainda o quadro pandémico, vamos assinalar este dia na Escola Portuguesa de Luanda, com um número de convidados limitado. Mas estaremos em boa companhia, com ilustres convidados angolanos e com compatriotas portugueses, entre os quais o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, que se desloca a Angola em representação do Governo português. Esta visita, na sequência de recentes visitas – em especial do Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho -, vem sublinhar a importância do nosso relacionamento bilateral.

Este dia representa a forma como os Portugueses se veem a si próprios e ao seu lugar no mundo, dado que associamos esta celebração nacional à nossa língua, através da evocação de Luís de Camões – o mais universal de todos os portugueses -, e às nossas comunidades no exterior.

No nosso dia nacional, não celebramos tanto o que nos distingue dos outros, como o que sempre nos aproximou dos outros. É a celebração de uma identidade aberta, tolerante e plástica, mas sempre fiel no amor a Portugal.

Com a sua determinação, a sua coragem e dignidade, a sua capacidade de integração e amor ao trabalho, a sua tenacidade na superação das adversidades, a sua saudade perene de um país que por vezes lhes negou as oportunidades que tiveram de buscar noutras paragens, o certo é que os portugueses espraiados pelo mundo são muitas vezes os nossos embaixadores mais autênticos. Cada um desses portugueses e lusodescendentes constitui um laço importante entre Portugal e o mundo, prolongando o nosso país muito para além dos limites das suas fronteiras físicas.

É o caso dos portugueses que vivem em Angola, e que aqui são uma irradiação de Portugal. Com o seu esforço, trabalhando lado a lado com os angolanos, deram e dão um contributo muito importante para o desenvolvimento deste país.

Neste dia enaltecemos a figura de Luís Vaz de Camões, poeta maior da nossa língua e, em grande medida, fundador da nossa mundivisão. A inspiração de Camões não se esgotou num passado distante, mas permanece bem viva nas histórias individuais de cada um dos nossos compatriotas espalhados pelo mundo. É nos seus versos que encontramos a consciência do que somos, na grandeza e nas fraquezas, mas sempre com persistência, ousadia e determinação. Assim construímos um país moderno, tolerante e coeso, com uma História antiga, e com um papel no mundo, fruto da língua e da cultura, cujo peso é muito superior à nossa dimensão geográfica, demográfica ou económica.

Em suma: hoje celebramos o orgulho de ser português.

Em Angola, assinalamos este dia sob o signo da fraternidade com o povo irmão angolano.

A nossa relação especial, baseada na igualdade e no respeito mútuo, estende-se a todos os domínios da ação governativa – do diálogo político-diplomático a áreas como a saúde, a educação, a justiça, a mobilidade das pessoas, a segurança e a defesa, entre tantas outras, numa concertação que se amplifica no quadro da CPLP, das Nações Unidas e das relações com a União Europeia.

Entre Angola e Portugal há uma história de vida comum, feita de destinos entrelaçados. As relações entre Angola e Portugal têm vindo a consolidar-se e são hoje marcadas pela maturidade, estabilidade e excelência. Podemos afirmar que é, acima de tudo, uma relação entre países e povos amigos.

Isso reflete-se também na economia. Com efeito, a densa interligação económica que nos une – e que é estruturante para ambas as partes – resulta da profunda empatia em termos humanos, afetivos, linguísticos e culturais.

Mas é preciso fazer mais. Assim, em parceria com o governo angolano, responderemos ao repto que nos lançou o Presidente João Lourenço no dia em que apresentei as minhas Cartas Credenciais: o de desempenharmos um papel importante na diversificação económica de Angola.

Trabalharemos em nome de um objetivo comum: criar entre nós um espaço de prosperidade partilhada, com progressos palpáveis em termos de riqueza e emprego, e sobretudo de desenvolvimento humano, a todos os níveis.

Estarei ao lado das empresas portuguesas. Desde logo das que que cá estão. Recordo que, mesmo nos momentos difíceis, como aconteceu durante a recessão económica e no contexto de pandemia, as empresas portuguesas mantiveram sempre uma presença firme e digna em Angola, tudo fazendo ao seu alcance para honrar as suas obrigações, pagar os seus salários e manter a maior parte dos empregos.

Mas vamos também procurar criar as condições, em diálogo e parceria com o governo angolano, para atrair novas empresas portuguesas, em setores como o agroalimentar, a energia, o turismo, a economia digital, os produtos farmacêuticos, entre outros. Para isso é preciso continuar a reforçar a segurança dos pagamentos, a previsibilidade jurídica, a redução da burocracia e a proteção dos investimentos, consolidando o esforço que tem vindo a ser feito pelo Executivo angolano nestas áreas.

Estou confiante que essas sementes germinarão. Confio na determinação dos nossos agentes públicos e privados. E confio acima de tudo na amizade entre portugueses e angolanos, bem como na cumplicidade estratégica que tem vindo a ser forjada entre os nossos respetivos Estados.

 

Francisco Alegre Duarte

Embaixador de Portugal em Angola

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